O resultado não demorou: o movimento Tamarrod ("rebelião" em árabe), que pretende ser a versão em Gaza da mobilização que contribuiu para a deposição do ex-presidente egípcio Mohammed Mursi, mostrou que ele só existia virtualmente, no Facebook. A ausência de qualquer manifestação nas ruas de Gaza confirmou que a capacidade do Movimento da Resistência Islâmica de dissuadir qualquer impulso de protestos não autorizados se mantém intacta, apesar de seu crescente isolamento e da piora da crise econômica na Faixa de Gaza.
Na véspera do fatídico dia, explica uma jornalista palestina que prefere manter o anonimato, "os líderes do Tamarrod, que vivem quase todos no Cairo, entenderam que as pessoas estavam com medo de sair às ruas e cancelaram a manifestação." O que justifica, até certo ponto, a tranquilidade demonstrada por Ghazi Hamad, vice-ministro das Relações Exteriores: "Esse movimento", ele afirma ao "Le Monde", não nos preocupa e não nos diz respeito: as pessoas do Tamarrod são indivíduos isolados, totalmente desprovidos de popularidade e o Hamas é forte."
Seus oficiais ficaram satisfeitos com esse sucesso fácil: "Eu tinha certeza de que não aconteceria nada", afirma Ahmed Youssef, conselheiro do primeiro-ministro Ismail Haniyeh, "porque os palestinos sabem que eles não estão sofrendo por causa do Hamas, mas em razão da ocupação israelense, das restrições egípcias e da Autoridade Palestina". Ainda assim o Hamas preferiu ser cauteloso e proibiu de fato a manifestação que o Fatah queria organizar, nesse mesmo 11 de novembro, na ocasião do nono aniversário da morte de Yasser Arafat.
O Fatah é o culpado ideal: "eu conheço pessoalmente os membros do Tamarrod, é gente do Fatah", afirma Ahmed Youssef. No entanto, essa demonstração de força é uma admissão de fraqueza: do ponto de vista político, o Movimento da Resistência Islâmica está em apuros. Isolado em Gaza (seus membros estão proibidos de entrar no Egito), ele também é privado da maior parte de seus apoios e está sujeito a um duplo bloqueio, uma vez que o do Egito se tornou tão rigoroso quanto o de Israel.
É por isso que ele não pode se permitir baixar a guarda no plano interno e está se esforçando para sufocar qualquer mínimo protesto político e social em Gaza. Dezenas de jornalistas foram interrogados, alguns deles sendo presos, nas últimas semanas. Para qualquer lado que ele olhe, o Hamas se vê diante da falta de perspectivas: seus antigos padrinhos Irã e Síria passaram a tratá-lo com frieza desde que a direção política do Hamas se recusou a se associar à guerra lançada por Bashar al-Assad contra seu próprio povo.
O Egito agora se mostra ameaçador ao falar de uma "resposta violenta" caso o Hamas coloque em risco sua segurança. O Cairo quer criar uma zona tampão na fronteira para se proteger das infiltrações vindas de Gaza. Foi por isso que ele destruiu 90% dos túneis de contrabando que ligavam a estreita faixa de areia ao Sinai egípcio. Os oficiais do Hamas têm se esforçado para alegar inocência diante das acusações egípcias, segundo as quais o Hamas apoiaria ao mesmo tempo elementos jihadistas no Sinai e os partidários do ex-presidente Mursi.
"O Hamas não está envolvido em nada disso", refuta Ghazi Hamad, "os egípcios acusam mas eles não têm prova nenhuma. Não queremos confronto com nossos irmãos egípcios. Posso entender que eles destruam os túneis," chega a dizer Hamad, "mas então que eles encontrem alternativas para que os palestinos não sejam sufocados no plano humanitário."
Ismail Youssef apresenta a seguinte explicação: "Quando o governo egípcio fracassou em convencer a opinião pública internacional de que a Irmandade Muçulmana era terrorista, ele acreditou que ao implicar o Hamas, que está na lista de organizações terroristas da Europa e dos Estados Unidos, ele poderia estigmatizar mais a Irmandade Muçulmana; então estão nos tomando como bode expiatório."
Em Gaza, ninguém espera que o Egito vá afrouxar o garrote. E ninguém acredita que Mahmoud Abbas intervirá a favor do Hamas. O processo de reconciliação dentro da Palestina está congelado, e será assim enquanto continuarem as negociações entre israelenses e palestinos.
Ainda que perdure o cessar-fogo com Israel criado há um ano, é possível perceber uma tensão desde que o exército israelense descobriu e destruiu, no início do mês, pelo menos dois túneis que levavam a seu território. Durante essa operação, quatro oficiais militares do Hamas foram mortos, mas nenhuma réplica veio de Gaza, o que é um fato raríssimo. É mais um sinal de que o Hamas considera prudente não entrar em um novo confronto com o Estado judaico.
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