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domingo, 1 de setembro de 2013

Obama vive dilema sírio

Sobre o ataque com armas químicas na Síria na semana passada, que deixou várias centenas de mortos, o presidente Barack Obama agora disse: "Nós concluímos que o governo sírio de fato os realizou. Sendo assim, é necessário que haja consequências internacionais".

Há duas vozes presidenciais nessa declaração ao "NewsHour" da "PBS", a ativa e assertiva da primeira sentença, a passiva e impessoal da segunda. Elas capturam a inclinação oscilante de Obama para o conflito sírio, já em seu terceiro ano, com mais de 100 mil mortos e vários milhões de deslocados. A guerra síria tem sido ruim para o presidente.

Este ainda é um mundo liderado pelos americanos e protegido pelos americanos. Se é "necessário que haja consequências internacionais", então os Estados Unidos, em coordenação com seus aliados e até onde for possível com apoio da ONU, deve executá-las. Obama desenhou e redesenhou uma linha vermelha para o uso na Síria de armas químicas, um flagelo que quase todos os países do mundo (189 deles) repudiaram por meio da Convenção de Armas Químicas e da participação na Organização para a Proibição de Armas Químicas.

A credibilidade dos Estados Unidos é um bem precioso, já corroído. Sua perda resultaria em um mundo traiçoeiro. Essa credibilidade não pode ser comprometida neste caso. Um mundo onde o presidente Bashar al Assad desdenha o presidente dos Estados Unidos e onde o tabu internacional de uso de armas químicas é despedaçado é um mundo seguindo em uma direção muito perigosa.

Mas o povo sírio não merece algo melhor do que uma chuva de mísseis Tomahawk americanos, não acompanhada de uma estratégia ocidental para um fim de jogo? Ele certamente merece algo melhor do que a tirania de Assad, três décadas após seu ataque devastador a Hama, e merece algo melhor do que uma guerra que não acabará enquanto o clã Assad se mantiver no poder.

Um ataque limitado que desestabilize Assad, prejudique seus ativos militares, comprometa sua força aérea e dificulte o envio de armas pela Rússia e pelo Irã pode, na melhor das hipóteses, trazer Assad para a mesa de negociação ou acelerar sua partida. No pior caso, levará a mais do mesmo (o desmembramento gradual da Síria por meio da guerra civil) com uma maior responsabilidade americana. Dentre os possíveis piores casos, mais do mesmo é aceitável.

A opção tentada até agora é a inação: ela não funciona. Persistir com isso e esperar que algo mude é fútil e tolo.

Mesmo que a Rússia se enfureça com um ataque americano ou aliado, sua fúria não iria além da retórica. (Ela também se enfureceu com a queda de Slobodan Milosevic na Sérvia, mas não fez nada.) O caminho diplomático de Genebra para um acordo negociado sofreria um revés, mas ele não está indo a lugar nenhum. Os elementos jihadistas na Síria poderiam se beneficiar, mas nada os beneficiaria mais do que uma guerra prolongada do tipo que já existe. A fadiga da guerra nos Estados Unidos e no Reino Unido não é uma desculpa para a rendição de um bem de importância estratégica duradoura –a credibilidade nacional– para um efêmero –a opinião pública.

É claro, o precedente do Iraque, uma história do fracasso da inteligência, é terrível. Por esse motivo, antes de qualquer uso da força, os inspetores da ONU devem concluir sua missão na Síria, a resolução britânica na ONU acusando o governo sírio de um ataque mortal com armas químicas, autorizando assim o uso da força, deve ser debatida (apesar de que será bloqueada pela Rússia) e Obama e David Cameron, o primeiro-ministro britânico, devem apresentar sua evidência de que o regime Assad foi o autor do ataque.

A legitimidade do argumento a favor a intervenção militar pode ser feito de modo poderoso com base na evolução da lei (pós-Ruanda, pós-Bósnia, pós-Kosovo) de necessidade humanitária e da proibição mundial ao uso de armas químicas.

A "responsabilidade de proteger" não deve ser palavras vazias. Às vésperas do 100º aniversário da Primeira Guerra Mundial, cujos ataques com gás nos campos de Flandres produziram os "pulmões corrompidos com espuma, obscenos como câncer" sobre os quais escreveu o poeta britânico Wilfred Owen, os ataques com gás pelo clã Assad não podem passar impunes.

Duas outras coisas devem acontecer na frente diplomática. Obama deve invocar a Convenção de Armas Químicas e responsabilizar a Síria por fazer parte do grupo minúsculo de países que não aderiram a ela. (Israel é signatário, mas não ratificou a convenção; talvez este seja o motivo para a reticência de Obama nessa frente.)

O Ocidente também deve testar o novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, que fez um pedido poderoso pela manutenção da proibição ao uso de armas químicas. "O Irã pede à comunidade internacional que faça uso de toda sua força para impedir o uso de armas químicas em qualquer parte do mundo, especialmente na Síria", escreveu Rouhani em sua conta oficial do Twitter nesta semana, lembrando de como o Irã foi atacado com armas químicas por Saddam Hussein (com apoio aberto ou tácito do Ocidente) durante a guerra Irã-Iraque de 1980 a 1988. Rouhani não apoiou uma ação militar do Ocidente, mas sinalizou uma mudança no tom iraniano.

O Irã de Rouhani, se trabalhado corretamente, pode ajudar a acelerar um fim de jogo na Síria. Assim como a asserção militar firme da credibilidade americana.

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