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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Como tuitar em mandarim sem cruzar a linha do que é "aceitável"

O almoço ocorreu tarde, de modo que quando voltamos ao nosso hotel, Hung Huang já estava no saguão aguardando por nós. Contundente, opiniosa e perversamente engraçada, Huang é uma das principais editoras de moda do país. Mas ela é mais conhecida por suas postagens cáusticas no Weibo, um microblog, onde ela conta com 7,5 milhões de seguidores. Ao nos apresentarmos –quatro jornalistas em uma visita a três cidades da China–, ela mostrou uma foto que alguém enviou para ela.

Era uma foto do presidente Barack Obama e do presidente da China, Xi Jinping, caminhando lado a lado. Espelhando aquela foto se encontrava outra imagem: Tigrão e o Ursinho Pooh, no mesmo passo e forma deles. Todos nós caímos na gargalhada. Huang planejava postá-la no Weibo.

Naquele momento, entretanto, chegou uma mensagem anônima pelo WeiChat –um novo primo peer-to-peer do Weibo. Ela continha um alerta supostamente do birô de notícias estatal. "Por favor, reforcem o monitoramento e gestão de todas as postagens relacionadas ao encontro Xi-Obama", ela dizia. "Por favor, removam todos os ataques, enigmas e piadas."

"Eu nem mesmo sei se este alerta é real", disse Huang. Mas ela decidiu imediatamente não postar a foto. O risco de ela cruzar uma linha invisível –entre comentário aceitável pelo governo e comentário não aceitável– era alto demais. Ela olhou de novo para a foto. "Ela é tão inocente", suspirou.

Atualmente é quase impossível visitar a China sem ouvir sobre a importância do Weibo, que foi lançado em 2009 pela Sina, uma grande empresa de internet com sede em Xangai, e que de lá para cá ganhou perto de 600 milhões de usuários.

Graças ao Weibo, o governo não consegue mais controlar o fluxo de informação, pelo menos não como costumava fazer. Quando ocorre um desastre, a melhor informação vem invariavelmente da comunidade do Weibo.

Microblogueiros expuseram a corrupção municipal e levantaram preocupações ambientais. "O governo não pode mais escapar com um aceno de mão", diz Kai-Fu Lee, o ex-presidente das operações do Google na China, que atualmente administra a Innovation Works. (Lee conta com incríveis 43 milhões de seguidores no Weibo.)

Talvez mais importante, o Weibo empoderou o chinês comum, talvez pela primeira vez, a expressar uma opinião e a confrontar pontos de vista diferentes. "Por milhares de anos os chineses não acreditaram que tinham cordas vocais", disse Huang. "Agora eles encontraram suas cordas vocais."

Mas apesar do progresso inegável que o Weibo representa, ainda há essa linha invisível, o ponto além do qual todo microblogueiro chinês não pode ir. Nada é afirmado por escrito, é claro; as pessoas que usam o Weibo precisam de um "sexto sentido", nas palavras de Huang.

Lee, cujas postagens são frequentemente não controversas, mesmo assim teve sua conta no Weibo suspensa por três dias em fevereiro, quando riu de uma nova ferramenta de busca estatal; ele também teve algumas de suas postagens censuradas. Quando nosso grupo falou com ele, entretanto, ele parecia ver a linha simplesmente como parte da vida na China, um atrito no sistema que precisava ser tolerado, como muitos outros atritos tolos.

"Sobrevivência é o pré-requisito para fazer a diferença", ele disse. "Há blogueiros que tiveram suas contas removidas. Eu quero estar próximo da linha, mas sem cruzá-la." Segundo ele, é contraproducente ultrapassá-la.

Huang é menos paciente. Ela, como Lee, passou anos nos Estados Unidos e tem uma postura ocidental a respeito da liberdade de expressão. "Se você olhar para a China hoje em comparação há 20 anos, há uma quantidade imensa de liberdade", ela disse. "Mas eu não vejo isso como um copo meio cheio. É preciso melhorar."

A questão maior é se o tipo de autocensura que "a linha" representa impede a China de outros modos. O medo de correr risco no Weibo passa para outras áreas da vida? Ele tem o potencial de atrasar a China?

Meu amigo James Fallows, um antigo correspondente estrangeiro para "The Atlantic", que viveu na China de 2006 a 2009, acredita que sim. Em um e-mail que ele me enviou poucos dias depois, ele argumentou –como fez em seu livro de 2012, "China Airborne"– que as sociedades mais modernas tentam "minimizar os tabus e maximizar as áreas de debate aceitável".

Ele se perguntou se a abordagem chinesa –expandindo lentamente as áreas de debate aceitável, até mesmo de modo temeroso– acabaria colocando "um teto no potencial geral do sistema chinês". Ele acrescentou: "Eu suspeito que o próprio esforço de manter a linha é uma das várias tensões que determinarão se a China, daqui a dez anos, será um país plenamente 'rico' e maduro, ou apenas uma versão maior do que é agora."

Enquanto isso, os instintos de Huang sobre a imagem que ela nos mostrou estavam certos. Apesar de Fallows ter conseguido postá-la em seu blog no "The Atlantic", aqueles que a postaram no Weibo a viram ser rapidamente removida.

Por mais inocente que certamente fosse, ela cruzou a linha.

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