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terça-feira, 23 de abril de 2013

Associação da imagem de Merkel a símbolos nazistas incomoda alemães

Gregos assemelham Angela Merkel à Hitler

Há anos que a imprensa marrom alemã reúne caricaturas insultantes a Angela Merkel no estrangeiro como argumento favorável à chanceler. A insistência em lhe colocar bigodinhos hitlerianos e em comparar a política de hoje com os horrores da Segunda Guerra Mundial é percebida na Alemanha com estoicismo e um ponto de satisfação: o governo a atribui, com êxito, à inveja que o mau aluno sente do primeiro da classe. "A Alemanha não merece isto", resumiu em outubro o jornal "Bild", nave-mãe do populismo alemão, em grandes caracteres sobre uma foto de manifestantes gregos disfarçados de nazistas para protestar contra uma visita de Merkel. "E pagaremos ainda mais", segundo o subtítulo impresso junto a uma chanceler com o olhar azul perdido na distância.

É a expressão arrebatada de um duplo vitimismo que, não obstante, tem base real: a Alemanha fez muitas concessões nesta crise. Em vez de causar impressão, a aberração histórica dessas injúrias empresta a Merkel uma aura de coragem pessoal e de integridade. Seus simpatizantes a consideram um preço por não dar o braço a torcer na defesa dos interesses da Alemanha de hoje. Que, como diz o sociólogo Ulrich Beck, "considerada em sua história, é a melhor que vimos".

Mas, com a França eclipsada e o sul em descalabro, também é a potência decisiva em uma Europa arruinada. Sua galeria de heróis na crise é encabeçada por Merkel e conta com personagens inopinados como o cinzento Jens Weidmann, seu ex-assessor e atual presidente do Banco Central, estilizado pelo diário conservador "Frankfurter Allgemeine Zeitung" como um contrapeso pátrio ao presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi. Embora o BCE tenha reduzido a inflação a níveis demasiado baixos, como o 1,4% medido na Alemanha em março, Weidmann continua agitando o espantalho dos preços para defender políticas mais restritivas.

Entretanto, o ministro da Fazenda, Wolfgang Schäuble, democrata-cristão como Merkel, diagnosticou que o sistema bancário cipriota é um morto-vivo corrupto e perigoso. Ele e o Fundo Monetário Internacional se encarregaram de explodir a cabeça do zumbi em troca do resgate pactuado em março. Enquanto defende esse tipo de medidas higiênicas próprias de uma união fiscal e bancária, Schäuble ralenta a implementação dos mecanismos comuns para recapitalizar as entidades com problemas.

Assim, mais de dois terços dos alemães são favoráveis à preservação do euro. Os demais contam com um partido político próprio há uma semana, a Alternativa pela Alemanha. Tem 3% de intenções de votos, insuficientes para entrar no Parlamento. A cientista política berlinense Tanja Börzel considera "difícil que consigam se instalar" no cenário político alemão, mas percebe riscos, "se o desemprego subir e a recessão alcançar a Alemanha". Se isso não ocorrer, ela acredita que "os dirigentes alemães contam com um espaço de manobra" diante de futuros desembolsos além dos resgates atuais. Por exemplo, tiram-se os detentores públicos de dívidas de países em crise.

No Conselho Europeu de Relações Internacionais, Ulrike Guérot alerta nestes dias sobre o "jogo das culpas mútuas". Ela diz que é difícil "traduzir as diferenças culturais e políticas" entre a Alemanha e o sul. Mas acredita que as críticas "estão chegando à opinião pública" alemã, que começa a reconhecer as semelhanças e responsabilidades. A corrupção política na Espanha e a catástrofe de suas caixas de poupanças teve seu correlato nos ruinosos Landesbanken alemães, administrados por políticos provincianos.

Os alemães informados sabem que se safaram com bilhões de dinheiro público, e por isso comemoram o modelo de resgate cipriota, que envolve os próprios bancos.
O discurso público, reforçado por seus êxitos econômicos, não se afasta das receitas de reforma e austeridade. Entretanto, para a Alemanha, "a aposta já é tão grande que é difícil voltar atrás". Espera "passos ambiciosos nos próximos três anos". Uma liderança que exigirá uma dupla tarefa de comunicação: suavizar o tom para fora e, dentro, concentrar os apoios para esses compromissos. A contrapartida do "imperialismo nazista" que os críticos mais desnorteados imputam a Merkel é "o parasitismo do sul", a que muitos alemães se sentem submetidos.

A capa do semanário "Der Spiegel" mostrava recentemente um aposentado com boné e aspecto inequivocamente mediterrâneo que, montado em um burro e protegido por um guarda-chuva com as cores europeias, vai perdendo notas de suas bolsas. Fala de um estudo do BCE, segundo o qual as famílias alemãs são mais pobres que as espanholas ou as gregas. Como ele inclui as moradias habitadas em propriedade como parte do patrimônio familiar, os alemães, dados ao aluguel, aparecem como desvalidos em comparação.

A apresentação de um aposentado em um burro como agente da crise parece espantar inclusive a Merkel, que na sexta-feira (19) alertou em uma entrevista publicada pelo "Bild": "Cuidado, essa estatística está distorcida".

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