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terça-feira, 18 de setembro de 2012

El País: Mundo islâmico intensifica ódio aos Estados Unidos

Afegãos queimam uma bandeira americana em Ghanikhel 

A história é cruelmente inoportuna, costuma cobrar a fatura no pior momento. É injusto, certamente, que os EUA de Obama, que no discurso do Cairo propôs uma reconciliação com o mundo árabe e muçulmano, que apoiou a Primavera Árabe, pelo menos com maior convicção que a União Europeia, expressou sua vontade de cooperar com os governos islâmicos supostamente moderados surgidos das primeiras eleições democráticas na Tunísia e no Egito, pague agora o preço de tantos anos de desprezo imperial para com os povos do norte da África e Oriente Médio. Foram tantos anos de apoio a regimes autocráticos como os de Ben Ali e Mubarak, tantos anos de apoio a Israel, faça o que fizer.

 Que ninguém se engane: o ressentimento com Washington no mundo árabe e muçulmano é muito profundo e se aprofundou enormemente nos anos de George W. Bush, com a invasão do Iraque, as barbaridades de Abu Ghraib,  Guantánamo e uma forma brutal de combater o jihadismo que, entre outras coisas, se apoiava nas autocracias árabes, às quais subcontratava a detenção e tortura de muitos suspeitos.

Também na Tunísia, o país do Magreb mais aberto e liberal no bom e velho sentido da palavra? Sim, também na Tunísia. Seus habitantes - laicos, meros muçulmanos piedosos ou militantes no fundamentalismo - não esqueceram que Ben Ali era citado como exemplo de governante árabe por Washington e pelas instituições financeiras ali baseadas, como o FMI e o Banco Mundial. Dito isso, é evidente que os EUA não são responsáveis pela bazófia cinematográfica que difama Maomé. E ainda o é mais que as reações das turbas salafistas no Egito, Líbia, Iêmen, Sudão e Tunísia só falam mal de seus protagonistas, só confirmam seu caráter monstruoso no ideológico, totalitário no político e violento na metodologia. O salafismo, essa interpretação fundamentalista do islamismo sunita regada pelos petrodólares da Arábia Saudita - um aliado dos EUA, veja você -, é infelizmente um tumor em expansão.

Suas vítimas agora são as sedes diplomáticas dos EUA. Mas nos últimos meses foram muitos homens e mulheres árabes, por coisas como exposições de quadros ou séries de televisão consideradas "blasfêmias", por não usar o jihab, por negar-se a que os Estados surgidos da Primavera Árabe sejam confessionalmente integralistas. Até os sufistas, muçulmanos praticantes de uma bela via mística, estão sendo ferozmente perseguidos pelos salafistas no norte da África. E em Tumbuctu, caída nas mãos desses loucos de Deus, expressões centenárias de piedade popular muçulmanas são destruídas pelos iconoclastas.

Os democratas tunisianos e seus amigos no exterior vinham denunciando há meses que os salafistas estavam impondo seu banditismo no país do jasmim, diante da passividade do governo dos islâmicos supostamente moderados do Ennahda, vencedores das eleições que seguiram à derrubada de Ben Ali. Agora, com os brutais assaltos na Tunísia a sedes diplomáticas e centros ligados aos EUA, o mundo sabe que essas denúncias não eram paranoicas, que o salafismo está aproveitando a liberdade recém-conquistada para se impor a socos, se for preciso, tal como fizeram os nazistas na República de Weimar. Sim, Obama paga uma pesada fatura histórica. Talvez o maior símbolo dessa injustiça seja a morte violenta na terça-feira (11) de Chris Stevens. O embaixador americano na Líbia falava árabe, queria bem aos árabes e apoiava o desejo de liberdade e dignidade de milhões deles.

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