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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Der Spiegel: "Alemanha é modelo para nós", diz premiê croata


“É melhor fazer parte do clube do que ficar só –mesmo que o clube esteja passando por problemas no momento”, disse o primeiro-ministro da Croácia, Zoran Milanovic.

Apesar da crise do euro, Milanovic está conduzindo seu país para a entrada na União Europeia com grande entusiasmo. Em entrevista, ele discute o ingresso planejado de Zagreb na UE em julho de 2013 e sua visão dos esforços dos líderes europeus até o momento na gestão da crise do euro.

Angela Merkel e Zoran Milanovic conversam em Berlim
Spiegel: A União Europeia está passando no momento pela pior crise desde sua criação. Por que o senhor ainda quer ingressar nela?
Milanovic: Você não pode ver nosso passo pelo prisma de curto prazo do presente. Afinal, é melhor fazer parte do clube do que ficar só –mesmo que o clube esteja passando por problemas no momento. O ingresso exige o cumprimento de padrões elevados nas áreas política e econômica. É como as provas finais que você precisa fazer para receber um MBA. Assim que você passa, você não pode ser preterido tão facilmente.

Spiegel: O prefeito de Londres, Boris Johnson, disse recentemente que adoraria ver “a bela nação da Croácia” se juntar à UE, mas ele também recomendou que seu país evitasse o euro. O senhor seguirá o conselho?    
Milanovic: Nós trabalharemos visando a adoção do euro. Mas nós o introduziremos daqui 10 anos? Eu não sei. Se realizássemos agora um referendo sobre o assunto, eu não sei se obteríamos o apoio dos croatas.

Spiegel: Qual é sua avaliação da gestão da crise do euro?
Milanovic: Na situação atual, não se pode esquecer o fato de que durante as últimas cinco décadas a UE permitiu que uma área que vai da Espanha até a Finlândia crescesse junta, enquanto antes eram mundos separados. Isso é claramente uma história de sucesso –um golpe de mestre. Eu nasci na Iugoslávia, uma entidade multiétnica –e lá nós contávamos com ajuda estrutural para as regiões mais pobres. Apesar disso, a desigualdade econômica entre Kosovo e a Eslovênia sempre permaneceu alta. Com o fundo de resgate do euro e o pacto fiscal, a Europa agora conta com novas ferramentas que pode usar para combater a crise. Eu também acho que o Banco Central Europeu está fazendo um bom trabalho. Ele está comprando títulos dos governos, reduzindo o fardo dos juros e, no geral, gerando crescimento.

Spiegel: Particularmente em alguns poucos países do Sul da Europa, Angela Merkel se tornou uma figura odiada. Como os croatas veem a mulher mais poderosa da Europa?
Milanovic: Nós não temos medo da chanceler aqui. Eu ainda me lembro bem de como, por anos, as pessoas falavam do mal alemão, de como a Alemanha estava atrás do restante da Europa em termos de crescimento econômico. Mas o país saiu daquilo por meio de reformas econômicas corajosas. A Alemanha é um modelo para nós, com sua racionalidade alemã, sua laboriosidade e até mesmo sua frugalidade.

Spiegel: Também nossa tendência rígida alemã à austeridade?
Milanovic: Sim, isso também...

Spiegel: Ou o senhor tende a ficar ao lado de François Hollande, um social-democrata como o senhor, que prefere injetar mais dinheiro nos mercados para produzir crescimento?
Milanovic: Eu o conheço e os seus pontos de vista. Ele não é um político frívolo. Mas também não pode ser dito que a posição dele é de oposição absoluta à da Alemanha. Ele é do Norte, da Normandia, o que sugere uma inclinação para as tendências protestantes-alemãs –em outras palavras, ele é parcimonioso e entendido em assuntos econômicos. Ele é um socialista. E não vamos esquecer, foi Gerhard Schröder, um político esquerdista, que promoveu as reformas na Alemanha.

Spiegel: Do ponto de vista de um país pós-comunista, como é vista a atual situação desoladora da Grécia? A Grécia, um país que há muito integra a esfera do Ocidente, deixou o euro à beira do colapso.
Milanovic: Nós não vemos a Grécia como delinquente. A crise ali é um símbolo de alerta para um caminho que não devemos tomar.

Spiegel: O senhor teme que condições mais duras estejam sendo impostas à Croácia por seu ingresso mais tardio na União Europeia?
Milanovic: Eu estou de fato preocupado com isso. De qualquer forma, do nosso ponto de vista, os benefícios do ingresso superam em muito isso. Por 10 anos, nós receberemos duas vezes mais dinheiro de Bruxelas do que pagarmos para o ingresso. Nós teremos toda uma geração de tempo para alcançar o restante da Europa.

Spiegel: Muitos na UE compartilham a opinião de que a Romênia e Bulgária foram aceitas na união cedo demais. Seria esse um motivo para Bruxelas estar sendo mais rígida com a Croácia?
Milanovic: Não, eu não diria que estamos sendo penalizados por causa da Romênia e da Bulgária.

Spiegel: O nacionalismo provocou a guerra nos Bálcãs nos anos 90. A promessa de fazer parte da Europa agora é mais forte em seu país do que o nacionalismo?
Milanovic: Nós croatas sofremos com uma overdose de história durante o último século. É claro que ainda temos algum nacionalismo. Mas os sentimentos hoje estão lentamente esfriando. Nós social-democratas fomos eleitos, apesar de nunca termos dividido as pessoas com base em sua língua ou religião, e apesar de sermos tudo, menos nacionalistas.

Spiegel: O ex-presidente da Sérvia, Boris Tadic, passou recentemente férias na Riviera Croata. As relações com Belgrado agora estão completamente livres de tensão?
Milanovic: Já existe um tratado de boa vizinhança em vigor há 16 anos. Muita coisa melhorou desde então. Os preconceitos entre sérvios e croatas estão desaparecendo, mesmo que isso esteja acontecendo lentamente.

Spiegel: Por ora, a Croácia será o último país para o qual a entrada na UE é certa. O senhor acredita que o processo de expansão da UE poderá ser retomado mais à frente?
Milanovic: A Croácia buscará isso, mas é claro que será muito difícil. A fadiga da expansão já prevalece há muito tempo. Mas nós gostaríamos de ver nossos vizinhos se tornarem membros. A Sérvia também, é claro.

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