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segunda-feira, 16 de julho de 2012

França boicotará cerimônia de entrega do polêmico prêmio Unesco-Guiné Equatorial


Teodoro Obiang foi nomeado delegado permanente adjunto
da Guiné-Equatorial junto à Unesco

O programa da cerimônia está pronto: na terça-feira (17), a Unesco deverá entregar o polêmico prêmio Obiang para a pesquisa em ciências da vida, no valor de US$ 3 milhões (cerca de R$ 6 milhões). A organização internacional conseguiu sumir com o nome do presidente e ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, substituindo-o pelo de seu país, mas o prêmio Unesco-Guiné Equatorial ainda é suspeito.

A França, embora considere que a criação dos prêmios internacionais cabe às instâncias da Unesco, “gostaria que esses prêmios refletissem os valores universais carregados por esse organismo”, ressalta o ministério das Relações Exteriores. Para marcar sua desaprovação, ela votou contra a mudança do nome do prêmio – aprovado apesar do parecer contrário emitido pelo comitê jurídico da Unesco. Ela estará ausente da cerimônia, afirmou o ministério das Relações Exteriores ao “Le Monde”, assim como todos os outros países europeus membros da Unesco.

A associação Sherpa, na vanguarda dessa questão, assim como a Human Rights Watch (HRW), havia comemorado o fato de que a atribuição do prêmio fora suspensa por duas vezes, sob pressão de diversas ONGs francesas ou estrangeiras. Mas ela lamenta a vitória de Obiang pai, no meio do caminho entre provocação e busca de respeitabilidade, sendo que seu próprio filho acaba de ser alvo de um mandado de prisão por parte da Justiça francesa.

A associação de combate aos crimes econômicos se indignou com o fato de que a Unesco possa associar seu nome “a um dos regimes mais fechados e mais corruptos do mundo”. Ela havia provado que o cheque de dotação havia sido emitido, no dia 13 de fevereiro de 2009, por um banco sediado em Malta, levantando dúvidas sobre a origem desses fundos. Ela se surpreendeu com o fato de que uma fundação privada, a Fundação Obiang, pudesse ter uma conta junto ao Tesouro público guinéu-equatoriano. Isso porque a declaração de utilidade pública dessa fundação, criada pelo Movimento dos Amigos de Obiang, só foi feita no dia 10 de agosto de 2009, seis meses após a emissão do cheque. Em suma, mais uma vez, um conflito de interesses e uma utilização questionável do erário público que é a marca registrada do regime de Malabo.

Não é a primeira vez que o clã Obiang tenta instrumentalizar a Unesco, seja para tentar adquirir uma conveniente imunidade diplomática, seja para se revestir de um verniz de respeitabilidade. Alguns dias após a apreensão de seus veículos por parte da polícia francesa, como parte de uma investigação aberta por receptação e lavagem de dinheiro, Teodorin Nguema Obiang foi nomeado delegado permanente adjunto da Guiné-Equatorial junto à Unesco.

O pequeno país da África Central, no entanto, não chegou a concluir a iniciativa junto ao Ministério das Relações Exteriores para tornar efetiva essa delegação. Ele preferiu, no final de maio, graças a uma reforma constitucional aprovada por 97,7% dos votos, nomear Obiang filho como vice-presidente do país, com status de chefe de Estado, uma imunidade considerada mais segura.

No dia 8 de março, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, se alarmou diante de seu conselho executivo com os riscos que a polêmica em torno do prêmio Obiang causava à instituição. Muito constrangida por essa controvérsia que macula seu mandato, ela não quis dar declarações ao “Le Monde” e se escondeu atrás de sua obrigação de aplicar a votação do conselho executivo, favorável à concessão do prêmio.

Portanto, na terça-feira (17) haverá um discurso sobre a educação na Guiné Equatorial e outro sobre a evolução do papel das mulheres na sociedade guinéu-equatoriana. Como se nada tivesse acontecido. Em uma coincidência bastante bizarra, na quarta-feira (11), no momento em que Obiang eludia os juízes, a embaixadora de seu país, também chamada Obiang, recebia seu certificado no Palácio do Eliseu. Esse não é o último desdobramento da história. Há rumores de que Obiang pai seria fanfarrão o suficiente para comparecer pessoalmente à entrega do prêmio que quase levou seu nome.

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