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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Autoridades ignoraram alertas sobre terrorismo antes do massacre das Olimpíadas de Munique


Alertas explícitos de que poderia haver um ataque terrorista nas Olimpíadas de Munique, em 1972, foram ignorados pelas autoridades alemãs, segundo documentos outrora secretos aos quais “Der Spiegel” teve acesso. Os novos detalhes revelam também tentativas de encobrir a magnitude do fracasso da operação para impedir que atletas israelenses fossem brutalmente assassinados.

Não é nenhum segredo que a forma como as autoridades alemãs lidaram com o massacre caracterizou-se por hesitações e acobertamentos dos fatos. Mas os novos documentos revelam que as autoridades esconderam ainda mais --e mais flagrantes-- erros do que se pensava. De fato, várias advertências antes dos jogos davam conta de que um ataque era iminente.

Documentos outrora sigilosos de autoridades policiais, despachos de embaixadas e protocolos de gabinetes que foram mostrados a “Der Spiegel” pela Chancelaria da Alemanha, pelo Departamento de Relações Exteriores e pelas agências estaduais e federais de inteligência revelaram até que ponto as autoridades se empenharam em ocultar os seus erros.

No ataque de 5 de setembro de 1972, terroristas palestinos mataram 11 membros da delegação olímpica de Israel, bem como um policial alemão. Cinco dos oito terroristas do grupo Setembro Negro, vinculado à Organização pela Libertação da Palestina (OLP), também foram mortos durante a tentativa fracassada de resgate, por parte da polícia alemã, no aeroporto militar de Fürstenfeldbruck, onde os reféns eram mantidos dentro de dois helicópteros.

“Nada de autocrítica”
Já em 7 de setembro, um dia depois que a cerimônia em memória das vítimas foi feita no Estádio Olímpico de Munique, um funcionário do Ministério das Relações Exteriores disse a um membro especial do gabinete federal qual seria, a partir de então, a orientação suprema das autoridades bávaras e do governo federal da Alemanha Ocidental. “As incriminações mútuas precisam ser evitadas”, diz uma ata das reuniões. “E, também, nada de autocrítica”.

É possível constatar como essa recomendação foi seguida à risca em documentos do governo federal e do governo estadual bávaro, que descrevem falsamente a “precisão” com que os terroristas desfecharam o ataque. Na verdade, as autoridades sabiam que os membro do Setembro Negro estavam tão despreparados que tiveram até dificuldade para encontrar os quartos de hotel dos israelenses em Munique antes do ataque.

No dia do ataque, os palestinos chegaram até a passar bem em frente aos apartamentos dos israelenses na vila olímpica e acabaram se deparando com atletas de Hong Kong um andar acima. Uma “avaliação analítica” do ataque conduzida pela polícia de Munique determinou explicitamente, mais tarde, que os terroristas “não haviam realizado nenhuma operação de reconhecimento precisa” com antecedência. Mas nenhum desses detalhes foi revelado publicamente. O fato de que promotores estaduais bávaros em Munique estavam investigando o chefe de polícia Manfred Schreiber e o seu chefe de operações, por suspeita de homicídio por negligência, também não foi mencionado no documento.

Advertências claras
Advertências concretas sobre um potencial ataque também não foram mencionadas, apesar de tais advertências terem sido tão claras que continua difícil entender por que elas foram desprezadas. No dia 14 de agosto de 1972, um funcionário da Embaixada da Alemanha em Beirute ouviu falar que “um incidente seria protagonizado pelos palestinos durante os Jogos Olímpicos em Munique”. Quatro dias depois, o Departamento de Relações Exteriores retransmitiu o alerta à agência de inteligência estadual na Baviera, juntamente com a recomendação de que “todas as medidas possíveis” fossem tomadas para evitar um ataque daquele tipo.

As agências de segurança sequer registraram oficialmente as advertências que apareceram na mídia. No dia 2 de setembro, três dias antes da operação de captura dos reféns, o jornal italiano “Gente” anunciou que terroristas do Setembro Negro estavam planejando uma “ação sensacional durante os Jogos Olímpicos”. Só mais tarde --dois dias após o banho de sangue em Munique-- o alerta foi registrado devido a um aviso da polícia de Hamburgo.

Autoridades responsáveis pareceram ter tentando apagar qualquer evidência do seu fracasso em prevenir o ataque, segundo revelam os documentos. Alguns dias depois, um comissário de polícia obteve informações referentes a 26 cenários potenciais de crise para os Jogos Olímpicos de Munique, que foram preparadas por um psicólogo da polícia a fim de auxiliar na preparação de uma diretriz de segurança para os jogos. Um desses cenários envolvia um ataque perpetrado por terroristas palestinos na vila olímpica.

Quando a agência estatal de inteligência da Baviera perguntou sobre o material, autoridades policiais admitiram que tais documentos tinham sido criados e discutidos durante os seminários de preparação para as Olimpíadas. Entretanto, essas autoridades indicaram que registros escritos sobre isso “não estavam disponíveis”. Até hoje esses documentos encontram-se desaparecidos.

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