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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

É possível estabelecer integração entre as nações árabes?


Mulher segura bandeira egípcia para celebrar um ano do início da revolução que derrubou Hosni Mubarak após três décadas no governo do Egito


Poucas regiões do planeta sonharam tão intensamente com a possibilidade de transcender os limites nacionais para se fundir em uma unidade maior e mais autêntica. À diferença do sonho da União Europeia, resposta a um continente dividido pela guerra, o projeto pan-árabe surgiu como reação nacionalista à dominação colonial e a suas fronteiras arbitrárias. Chegou a se concretizar na efêmera República Árabe Unida, que uniu Egito e Síria de 1958 até 1961 sob a batuta de Nasser, e se reproduziu em outras tentativas também fracassadas, quase todas protagonizadas por um coronel Gaddafi ansioso por imitá-lo.

As esperanças mais sublimes correspondem às realidades mais toscas: poucas áreas do planeta se encontram menos integradas economicamente e mais esquartejadas no plano político. Não é preciso voltar o foco para a disputa territorial entre israelenses e palestinos, entre o Mediterrâneo e o Jordão, para tropeçar com divisões, controles, muros e bloqueios. No Magreb, Marrocos e Argélia vivem de costas e com a fronteira fechada, estrangulados pelo conflito do Saara Ocidental.

Entretanto, a capacidade de contágio das revoltas veio lembrar, como se alguém tivesse esquecido, as afinidades e sentimentos compartilhados pelos cidadãos de toda a geografia árabe. Há uma espécie de novo pan-arabismo, implícito e alheio aos projetos derrotados, animado pelas redes de televisão via satélite, sobretudo a Al Jazira, que não se traduz por enquanto na reconstrução dos velhos sonhos de unidade.

Veio também estimular a ação política internacional, depois de recuperá-la na vida interior dos países em transição. Apesar das utopias unitárias, ou exatamente por causa de seus efeitos perversos, esses países quase não se relacionavam entre si e preferiam viver divididos, em uma relação individualizada de mútua proteção mafiosa com as potências ocidentais da qual os autocratas extraíram copiosos benefícios pessoais. Agora não têm outro remédio senão falar entre eles, fechar pactos e acordos, coordenar ações diplomáticas ou militares e aprender a atuar juntos, o que nunca souberam fazer, como demonstram suas guerras contra Israel, todas perdidas.

A crise política desencadeada pelas revoltas estimula a ação multilateral e reanima instituições e projetos de cooperação e integração. Nem sempre na boa direção, como demonstra a intervenção militar em Bahrein dos países do Conselho de Cooperação do Golfo, dirigidos pela Arábia Saudita, para abafar os protestos que começaram ali há um ano. As monarquias petrolíferas, encabeçadas pela saudita, atuaram em março do ano passado como os soviéticos na época da guerra fria através do Pacto de Varsóvia, marcando as linhas vermelhas da soberania limitada dos países sob seu guarda-chuva de segurança, que também faz parte do guarda-chuva dos EUA. Tal atuação era exigida pelas bases militares americanas na região (no próprio Bahrein, entre outros), pela ameaça nuclear iraniana e sobretudo pela negação dos direitos civis à população, principalmente a de religião xiita.

As duas maiores oportunidades para a ação coordenada foram proporcionadas pelas crises líbia e síria. Com a primeira, a Liga Árabe patrocinou a criação de uma zona de proibição de voos para proteger os rebeldes dos ataques de Gaddafi, mas logo ficou sob a direção europeia. Com a segunda, a própria organização árabe é a que conduz a resolução da crise e promove uma força da ONU para conter a matança de Assad contra sua população. Os principais promotores desta última iniciativa são paradoxalmente as monarquias contrarrevolucionárias petrolíferas, que desta vez apoiam a revolução síria como parte de sua guerra fria contra o Irã.

A tração integradora no oriente árabe, o Mashrek, se volta para a mudança de regime na Síria e para conter o Irã, e daí que tenha na segurança seu conceito central. Na ponta ocidental, o Magreb, por sua vez, um multilateralismo construtivo começa a mover peças por iniciativa do país vanguardista que é a Tunísia. Seu presidente, Moncef Marzuki, acaba de apalavrar em um giro pelo Marrocos, Mauritânia e Argélia a celebração de uma cúpula da União do Magreb Árabe, para ressuscitar essa organização nascida em 1988 e sem vida útil até agora. Seu objetivo imediato é construir um espaço magrebino com cinco liberdades: de circulação de pessoas, residência, trabalho, investimento e participação eleitoral nos municípios. A pulsão de unidade, longe do antigo pan-arabismo, se expressa assim no Mashrek trançando acordos de segurança, ao estilo da Otan na guerra fria, e no Magreb, buscando uma cooperação econômica e civil como na UE.

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