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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tripoli, capital da Líbia, se transforma para melhor e para pior

Na foto acima, rebeldes líbios entram em combates com tropas leais ao ditador Kadhafi em Abu Salim, um distrito de Trípoli 

Trípoli não é mais a capital de um Estado policial. Mas o que ela se tornou, em apenas questão de semanas, pode ser tanto empolgante quanto perturbador.

Vendedores de haxixe estão mascateando abertamente seus produtos no centro da cidade, na Praça dos Mártires, conhecida como Praça Verde antes da derrubada de Muammar Gaddafi. Motoristas atravessam sinais vermelhos sem pestanejar, enquanto manifestações políticas congestionam o trânsito. Membros de milícias irregulares, que substituíram a odiada polícia de Trípoli em muitos bairros, ainda demonstram pouca disciplina com suas armas, as disparando acidentalmente ou para o ar com frequência excessiva.

Trípoli é uma cidade vibrante de quase 2 milhões de habitantes com um porto movimentado, e conta com ruínas romanas e antigas muralhas de fortificação construídas pelos otomanos e outros conquistadores. Mas apesar de ter passado por mudanças abruptas ao longo dos séculos, o que está acontecendo atualmente era impensável há apenas poucas semanas, quando Gaddafi tentava controlar até mesmo os menores detalhes da vida cotidiana.

Vidros escuros eram proibidos nos carros; agora, motoristas por toda parte estão aplicando a película verde escura em seus vidros para proteção contra o sol forte e também como um sinal de sua nova liberdade. Vendedores de hortifrutis eram impedidos de vender seus produtos na maioria das ruas; agora, um grande número deles vende bananas e laranjas sob viadutos e nas calçadas das rotatórias, os ajudando a alimentar suas famílias, mas também piorando os congestionamentos.

O inglês era em grande parte proibido por Gaddafi nas placas públicas. Agora, placas em inglês brotaram em quase toda parte pela cidade, apesar de poucos líbios entenderem o que dizem. As placas são outra expressão de liberdade, assim como a prontidão do país em se abrir para o mundo exterior.

“Hoje, Trípoli tem uma nova batida de coração”, diz um outdoor exibindo dois milicianos se abraçando, colocado pela prefeitura interina. Até mesmo grande parte das pichações revolucionárias, que estão por toda parte, é em inglês. “Líbia Livre” é a mais comum. Algumas até mesmo dizem “Obrigado, Otan” pela ajuda militar ocidental que foi crucial para a derrubada do velho governo.

E, é claro, há várias descrições recém rabiscadas do falecido ditador trajando roupa de palhaço, ou como uma cabeça caricatural no corpo de algum tipo ou outro de besta.

A maioria dos moradores de Trípoli diz que nunca esteve tão feliz, mas ainda há certa trepidação.

“As pessoas não entendem o que é liberdade”, disse Sara Abulher, uma estudante de Direito da Universidade de Trípoli, que recentemente mudou de nome para se livrar daquele que lhe foi dado pelo governo Gaddafi. “As pessoas pensam que liberdade significa fazer aquilo que bem quiserem, mas liberdade deve significar que todo mundo também respeite as necessidades do próximo. Liberdade não significa cruzar essa linha.”

Abulher disse que também ficou perturbada por muitas de suas colegas estudantes terem repentinamente descartado seus hijabs, o tradicional lenço de cabeça muçulmano.

Otman Abdelkhalig, um enfermeiro chefe do pronto-socorro do Hospital Central de Trípoli, disse: “É um novo país. As pessoas estão felizes porque podem finalmente falar livremente”.

Mas Abdelkhalig disse que também viu um lado desagradável em toda essa nova liberdade. Os motoristas de Trípoli sempre foram conhecidos por correr em excesso e por mudar de faixas de modo imprudente, mas a direção perigosa atingiu novas alturas, ele disse.

Pelo menos 15 vítimas de acidentes de carro chegam diariamente com braços fraturados, ferimentos na cabeça ou costelas quebradas, três vezes o número normal, disse Abdelkhalig, um imigrante sudanês que vive aqui há 32 anos. E todo dia, ele disse, duas pessoas dão entrada no pronto-socorro com ferimentos de bala. O novo governo interino está apenas começando a formar um exército nacional e a organizar suas forças policiais locais e a nacional. Os policiais de Trípoli que lidam com o trânsito e infrações comuns antes chegavam a cerca de 4 mil, mas muitos deles simplesmente abandonaram seus empregos e o antigo comando foi demitido.

Suborno antes era a principal forma dos policiais de trânsito ganharem dinheiro, mas os velhos hábitos parecem estar mudando, ao menos por ora.

“Ainda não é hora de multar”, disse o sargento Mobruk Ali, que estava sentado em sua viatura em uma rotatória próxima do porto, observando os carros passarem em velocidade. “Primeiro temos que tirar as armas dos rebeldes e depois começaremos a trabalhar.”

Ali disse que foi demitido da força policial há 20 anos porque faltava no trabalho com muita frequência, para lidar com problemas familiares. Mas ele voltou à força logo depois de Trípoli ter sido libertada. Ele diz que agora será respeitável ser um policial e que a prefeitura interina prometeu aumentar os salários.

“Agora as pessoas sorriem quando nos veem”, ele disse.

Felizmente, a falta de trabalho policial normal não parece ter produzido uma onda de crimes além do aumento do vício. Algumas pessoas se queixam de mais roubos de carros, mas os moradores dizem que não sentem perigo ao caminhar pelas ruas e os comerciantes dizem que não temem serem roubados.

“Nós temos um ponto de vista religioso”, disse Sadek Kahil, proprietário de uma joalheria na velha cidade murada, que expõe abertamente braceletes e colares de prata e de ouro ornamentado, aparentemente sem segurança. “As pessoas que lutaram por seu país não passam simplesmente a roubar lojas”, ele acrescentou. “Nós temos problemas, mas tudo é possível agora que nos livramos daquele idiota autoritário.”

Mas outro tipo de negócio está prosperando no bairro de Gergarg, um dos mais pobres da cidade, onde gatos selvagens reviram o lixo nas ruas sujas e esburacadas. As pessoas estão vendendo abertamente haxixe e bokha, um destilado de figos caseiro, em sacos plásticos em frente de suas casas.

A venda de álcool e drogas é ilegal, mas durante os anos Gaddafi, os vendedores em Gergarg realizavam seus negócios em segredo. Agora os compradores param escancaradamente seus carros no bairro e os vendedores nem disfarçam suas atividades.

“A Líbia está 100% diferente”, disse um vendedor que se identificou apenas pelo seu primeiro nome, Ibrahim, enquanto exibia para um visitante os engradados de uísque escocês, vodca, vinho tinto tunisiano e barras finas de haxixe em sua garagem. “Tudo é bom. Nós somos livres.”

Um comentário:

  1. "Agora, placas em inglês brotaram em quase toda parte pela cidade, apesar de poucos líbios entenderem o que dizem. As placas são outra expressão de liberdade..."

    Que cretinice, isto não é liberdade é pura e simplesmente colonização...

    “A Líbia está 100% diferente”, disse um vendedor que se identificou apenas pelo seu primeiro nome, Ibrahim, enquanto exibia para um visitante os engradados de uísque escocês, vodca, vinho tinto tunisiano e barras finas de haxixe em sua garagem. “Tudo é bom. Nós somos livres.”

    Drogas e prostituição liberadas, que beleza! Os instrumentos certos para a desagregação social e tornar os líbios em seres humanos fúteis e viciados consumidores, estes são os métodos das altas elites mafiosas, que já dominam o ocidente a muito tempo...

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