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sábado, 5 de março de 2011

Segunda frente: a batalha pela riqueza oculta da Líbia

Opositores do regime de Khadafi participam de treinamento em Benghazi
Enquanto a batalha pela Líbia se intensifica, a luta pelo controle do fundo de riqueza soberana do país e seus US$ 70 bilhões em ativos apenas começou.

Com um pote considerável de dinheiro vivo e participações em algumas companhias de elite europeias - incluindo a editora britânica Pearson e o time de futebol italiano Juventus -, o fundo serviu como um importante trunfo para seu fundador, Saif al Islam Gaddafi, o filho do ditador líbio que já foi considerado o reformista da família.

Formalizado em 2007, no início da crise financeira, o fundo foi usado por Gaddafi em um esforço para defender a tese de que a Líbia estava pronta para se abrir para o Ocidente. Ele ajudou a atrair para a órbita de Gaddafi uma série de figuras poderosas, incluindo a família Rothschild; o príncipe Andrew do Reino Unido; o ex-comissário de Comércio europeu Peter Mandelson; a nata da sociedade corporativa italiana; e os investidores americanos Stephen Schwarzman, da Blackstone, e David Rubenstein, do Carlyle Group.

Os EUA disseram que pretendiam congelar os ativos da Autoridade de Investimentos Líbia controlados por instituições americanas, embora nenhum banco ou ativo específico tenha sido identificado publicamente. No Reino Unido, autoridades dizem que o fundo não poderá vender e repatriar seus ativos, que incluem, além da participação na Pearson, uma pequena carteira de imóveis comerciais em Londres.

Mas o que ainda não está claro é em que medida os cerca de US$ 50 bilhões em dinheiro e papéis líquidos do fundo, que operava sob o controle indireto de Saif Gaddafi, estão ao alcance do regime de seu pai, o coronel Muammar Gaddafi.

Virtualmente todas as riquezas da Líbia vêm do petróleo, e, embora o país possa estar sentado sobre uma montanha de dinheiro, usar essas somas nos mercados internacionais para comprar armas ou pagar mercenários provavelmente é muito difícil.

Pessoas que trabalharam estreitamente com o fundo dizem que seu funcionamento interno era amplamente um mistério, pois a inércia burocrática e a falta de perícia em investimentos o impediu de ser mais ativo. Ele fez seu primeiro investimento externo somente em 2008. A maior parte do dinheiro provavelmente é mantida na Líbia ou em outros bancos do Oriente Médio, fora do alcance de sanções.

"Não havia cópia de segurança, nem equipe nem sistema - e todo mundo queria ter uma parte da ação", disse Oliver Miles, um ex-embaixador britânico na Líbia. "Seria errado dizer que ele falhou, mas também não teve sucesso."

Até certo ponto, afirmou Miles, a experiência do fundo reflete a agenda de reformas de Saif Gaddafi como um todo. "Ele não tem o conhecimento profissional e o apoio para fazer o que disse que faria", disse Miles, "e há a questão de quão comprometido com as reformas ele realmente estava."

Enquanto banqueiros dizem que parte do dinheiro provavelmente está sendo administrado pelos bancos de investimentos que cortejaram agressivamente o fundo em seus primeiros dias, também consideram provável que o grosso dos ativos tenha permanecido no sistema bancário da Líbia, rico em liquidez - um dos reflexos da longa experiência do país com sanções impostas por ocidentais.

Além do fundo, o Banco Central da Líbia tem reservas de cerca de US$ 110 bilhões, dando-lhe uma posição líquida de caixa de cerca de 160% do PIB bruto do país, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Desde seu discurso sobre "rios de sangue" no mês passado, em que Gaddafi expressou pela primeira vez a determinação de sua família a manter o poder a qualquer custo, seu círculo de conhecimentos, antes amplo, encolheu drasticamente.

No Reino Unido a amizade se transformou em repulsa. Marjorie Scardino, executiva-chefe da Pearson, que publica "The Financial Times" e "The Economist", disse que a companhia está desconfortável com a participação de 3% da Líbia. A empresa congelou a posição e não pagará dividendos para o fundo.

No Parlamento britânico, o Partido Trabalhista, de oposição, pediu que o primeiro-ministro David Cameron retire o príncipe Andrew de seu cargo como promotor mundial dos interesses empresariais britânicos.

Na Itália, onde o fundo investiu mais fortemente, em parte por causa dos antigos laços que datam da colonização da Líbia pela Itália, a reação foi mais comedida. Andreas Agnelli, o dono do Juventus, disse que não está preocupado com a participação de 7% ligada a um irmão de Gaddafi, Al-Saadi, um ex-jogador profissional na Itália.

O banco italiano Unicredit, que tem 7% nas mãos da Autoridade de Investimentos Líbia e do Banco Central da Líbia, disse apenas que está monitorando a situação.

A Autoridade de Investimentos foi criada em 2006, quando a Líbia e Gaddafi em particular faziam uma tentativa de se reunir à comunidade de nações.

A firma de consultoria Mercer foi chamada para dar conselhos técnicos, e Saif Gaddafi utilizou suas conexões na London School of Economics, onde trabalhava em seu doutorado, para recrutar mais peritos, incluindo Howard Davies, o diretor da escola, para servir de assessor ao fundo.

Davies disse que lamenta seu envolvimento com o fundo e não está mais ligado a ele. Disse que não recebeu honorários nem deu conselhos sobre investimentos específicos. A London School of Economics declarou na tarde de quinta-feira que Davies renunciou como diretor e que havia encomendado um inquérito sobre o relacionamento da escola com a Líbia e Gaddafi.

Fornecer a plataforma de lançamento intelectual não apenas para o fundo mas também para o sonho de Gaddafi de reformular a Líbia como um polo empresarial da região, rivalizando com Dubai, foi um trabalho que ele encomendou a Michael Porter, o especialista em concorrência internacional na Universidade Harvard, que elogiou o potencial da Líbia e seu sistema de "democracia popular".

"Estávamos lá porque o país parecia pronto para reformas", disse Porter, respondendo a uma pergunta sobre seu envolvimento na Líbia. "E Saif era o principal condutor de reformas. Ficou claro que os conservadores haviam bloqueado os reformistas e eu terminei meu envolvimento pessoal em 2007."

O chefe nominal do fundo é Muhammad H. Layas, talvez o mais experiente banqueiro internacional da Líbia. Ele teve um papel de liderança em instituições que incluem o Libyan Arab Foreign Bank, o único banco que teve permissão para realizar negócios internacionais na vigência das sanções da ONU contra a Líbia; o British-Arab Commercial Bank, um banco de atacado sediado em Londres, cuja maioria é hoje propriedade da Líbia; e a Arab Banking Corp., um banco baseado em Bahrein também de maioria controlada pela Líbia.

Mas, enquanto Saif era o principal titular, banqueiros que têm negócios com o fundo dizem que o verdadeiro poder é exercido por Mustafa Zarti, um amigo íntimo de Gaddafi cujo título é vice-executivo-chefe.

Ousado e com um estilo direto, segundo as pessoas que lidaram com ele, Zarti estudou com Gaddafi na Áustria. Ele também é seu sócio em uma empresa de criação de atuns na costa ocidental da Líbia, a RH Marine Services.

Banqueiros que lidaram com Zarti dizem que ele se considera um grande negociante - muito ligado a nomes reluzentes de Wall Street como Goldman Sachs - e era conhecido por suas decisões de investimentos impulsivas e malsucedidas, como investir no Banco Real da Escócia antes que ele fosse socorrido.

Em 2008, quando o fundo começou a decolar, Zarti chamou a atenção de banqueiros estrangeiros, tanto que em seu casamento em Trípoli em 2009 dois grandes investidores de capitais privados, Schwarzman, da Blackstone, e Rubenstein, da Carlyle, foram convidados e compareceram à festa.

Peter Rose, um porta-voz da Blackstone, disse que a Líbia não havia investido em qualquer dos fundos da companhia. Chris Ullman, da Carlyle, disse que a empresa não comenta sobre a identidade de seus investidores.

Enquanto Gaddafi de modo geral manteve distância das operações cotidianas, de vez em quando aparecia para autorizar um investimento, como sua participação na Rusal, a produtora de alumínio controlada pelo oligarca russo Oleg Deripaska.

No início de 2010 o fundo estava sentado sobre US$ 50 bilhões em dinheiro e ações, segundo Layas.

Em uma entrevista em seu escritório em Trípoli pouco mais de um ano atrás, Layas disse que os banqueiros estavam bem conscientes dos bilhões em caixa disponíveis para o fundo líbio, mas que ele nunca foi tentado a investir no exterior no nível e na escala de outros fundos, como a Autoridade de Investimentos de Abu Dabi.

De fato, ele sugeriu que as cicatrizes de décadas de sanções ainda eram sentidas profundamente. "As sanções nos tornaram muito conservadores", ele disse. "E a opinião do líder é que enquanto acumulamos nossas reservas devemos manter a maior parte delas no Banco Central."

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