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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Presidente luta para manter o Iêmen unido

Vendedor de chapéus feitos à mão espera por vendedores na cidade de Sanaa, Iêmen
O presidente do Iêmen Ali Abdullah Saleh está ameaçado por todos os lados. Separatistas estão se mobilizando no sul do país, e os rebeldes xiitas no norte. Enquanto isso, a Al Qaida de Osama bin Laden transformou o país numa base para o terrorismo, como demonstrado por dois ataques a bomba.

Um Toyota decorado com versos do Alcorão parou perto do porto. O sol é tão forte que é preciso semicerrar os olhos para ver a ilha Sira e, na frente dela, uma ilha menor onde fica a casa do homem que atualmente governa o sul do Iêmen - “o único presidente legítimo”, como diz Nassir al-Taawid. Alguns acreditam que este foi o lugar do Jardim do Éden. E no porto está o local onde o USS Cole foi destruído por homens-bomba da Al Qaida em outubro de 2000, quando uma explosão massiva contra o casco do navio de guerra matou 17 marinheiros norte-americanos.

Foi ali que tudo começou.

Taawid pediu a seu motorista para levá-lo de volta à cidade. O motorista usa uma barba estilo bin Laden como uma espécie de disfarce. “É menos visível”, diz ele. Se você quiser ser discreto em Aden no momento, precisa fingir que é um muçulmano devoto. “Somos um país ocupado”, diz Taawid.

Taawid é um ex-major general da força aérea. Ele é um homem atraente, imponente e pronto para lutar, mas sem uniforme ou soldados. O homem de 53 anos vive com sua família numa cabana de concreto acima do porto. Ele acaba de voltar de uma reunião com membros de seu movimento, o Harak.

Faz 20 anos que o país foi unificado, e agora o Harak quer dividir o Iêmen em duas partes mais uma vez, levando o país de volta à época em que era constituído por duas nações independentes entre o Mar Vermelho e o Golfo de Aden: o Iêmen do Norte religioso e o Iêmen do Sul socialista, então aliado de Moscou. Ali Salim Al-Bid, líder do Harak e último homem forte do sul do Iêmen, não vive mais no palácio no porto da ilha; ele vive no exílio.

A Península Arábica quase esquecida

Durante anos, ninguém no mundo parecia muito interessado. Isso foi até dezembro de 2009, quando um terrorista treinado no Iêmen, o chamado homem-bomba submarino, entrou num voo transatlântico. Então, alguns explosivos escondidos em cartuchos de impressora, que haviam sido preparados no Iêmen, foram transportados como carga aérea. “Olhando para trás, os ataques foram uma bênção para nós”, disse o ministro de exterior do Iêmen. “Eles alarmaram o mundo.”

É bom o ver lado bom disso.

Nas conferências de especialistas em terrorismo, o Iêmen substituiu o Afeganistão como uma fortaleza da Al Qaida. Desde que a rede de Bin Laden reuniu seus guerrilheiros na Arábia Saudita e Iêmen para formar o grupo Al Qaida na Península Arábica (AQAP) em janeiro de 2009, as operações mais nocivas se originaram no Iêmen. Embora relativamente pequena – a comunidade de inteligência estima que a AQAP se resume a mil guerrilheiros – o grupo é experiente e bastante motivado. Ele inclui ex-detentos de Guantánamo, islamistas expulsos da Arábia Saudita, e iemenitas que voltaram do exílio no exterior. O Iêmen também abriga um grande número de escolas islâmicas rígidas, que servem como potenciais centros de recrutamento para a Al Qaida. O país tem desertos e montanhas no sul que tornam as operações militares excessivamente difícil.

Por fim, há uma região inteira, a área que antes era conhecida como o Iêmen do sul, onde a pobreza, a frustração e a raiva contra o norte assumiram proporções perigosas.

Os campos de treinamento na mata estão em ruínas ao longo do caminho de frente para o mar em Aden. O aspecto da cidade seria o mesmo das cidades de Rostock e Wismar no leste alemão se o Ocidente tivesse expulsado as antigas elites em 1990, renomeado as ruas, absorvido empresas estatais e se recusado a gastar um centavo no desenvolvimento pós-comunista.

“A unificação trouxe para os imãs a pobreza e a dependência”, diz Taawid. Para todo funcionário público do sul foi designado um supervisor do norte, acrescenta ele. Qualquer um que seja pego bebendo álcool corre o risco de ser exposto publicamente. “Esta foi a cultura que o norte nos trouxe. A sociedade tribal ainda prevalece lá, mesmo que eles dirijam carros.” Suas palavras refletem a amargura de um homem que já viu dias melhores.

Adagas curvas e restos marxistas

Na República Popular do Iêmen, ou Iêmen do Sul, os nomes tribais e o véu eram desaprovados, e as mulheres tinham que servir no exército. Mas os comunistas tinham uma abordagem estreita ao interpretar os escritos de Lenin, assim como os agitadores islamistas de hoje fazem em relação ao Alcorão. Milhares de pessoas foram mortas em disputas ideológicas pelo poder que duraram apenas alguns dias.

A rua principal de Aden lembra a alameda Karl Marx na antiga Berlim Oriental. Há buracos visíveis debaixo das janelas dos prédios enfileirados na rua, marcando os lugares onde os comunistas ordenaram a retirada de todos os aparelhos de ar condicionado. Se os pobres suam, todos têm de suar. Os cidadãos do sul do Iêmen tiveram que suportar muita coisa de seus regimes.

Os homens carregam adagas curvas em seus cintos e andam por aí com as bochechas protuberantes e redondas, como se estivessem contrabandeando bolas de pingue-pongue. O motivo para isso são as folhas de khat. Elas foram proibidas nos países vizinhos, onde são consideradas um narcótico, mas no Iêmen o khat é tão comum quanto chiclete. A melhor variedade existente no mercado agora é chamada “Foguete Russo”.

A parte mais velha de Aden, chamada “Cratera”, fica na cratera de um vulcão extinto, e sua borda recortada ainda se ergue em torno da cidade. Um sinal apagado que diz “Rambou” dependura-se de um prédio coberto com correntes.

Este é o antigo escritório de comércio onde Arthur Rimbaud trabalhou a partir de 1880. O poeta francês tentou comercializar café, especiarias e armas. “O imundo Mar Vermelho é martirizado por ondas de calor”, escreveu ele numa carta para sua família. “Aden fica numa cratera vulcânica. As bordas não permitem que nenhum ar entre, e nós somos cozidos aqui no fundo do buraco.” Hoje o prédio está abandonado, com as portas pregadas e as janelas cobertas de poeira.

“Este não é mais nosso país”

Em toda Aden, não há uma única livraria que tenha qualquer coisa diferente de literatura devocional islâmica nas prateleiras. As mulheres não podem mais sair de casa sem o niqab, ou véu de corpo inteiro. A cidade pobre e vibrante não tem rostos femininos.

“Este não é mais nosso país”, diz o ex-general Taawid. “Queremos nosso país de volta. O governo de Sana'a precisa resignar, e daí poderemos conversar.”

Mas o governo em Sana'a não quer resignar.

O Harak não é um movimento armado, mas é capaz de realizar ataques, ou “operações esporádicas, onde alguém é atacado”, como diz o ex-oficial.

No verão houve vários ataques a delegacias de polícia em Aden e Zinjibar, a 50 quilômetros ao leste. Os separatistas acusam o governo de Sana'a de usar a Al Qaida para definir a resistência no sul como um movimento terrorista. “Não temos nenhum contato com a Al Qaida. O norte nos envia esses demônios para que eles lutem conosco e mantenham os norte-americanos felizes”, diz Taawid. Ele está firmemente convencido de que as agências de inteligência no norte estavam envolvidas nos ataques às delegacias de polícia; mas todas as indicações apontam para a AQAP.

“Aqui está”, diz Taawid. Seu Toyota parou perto de um prédio colonial de três andares, o Hotel Crescent. A rainha Elizabeth 2ª se hospedou no local. “Já vimos Anwar al-Awlaki sentado aqui”, diz ele. Awlaki é um suposto terrorista da Al Qaida que tem um passaporte norte-americano, e foi provavelmente o responsável por planejar os ataques a bomba. “Ele estava sentado bem aqui há um ano, bebendo seu chá calmamente.”

O antigo Hotel Crescent agora funciona como quartel da polícia secreta.

Avanço dos fundamentalistas

A AQAP quer derrubar o regime no Iêmen e estabelecer uma teocracia baseada no modelo Taliban. O grupo é liderado por um homem baixo, o ex-secretário particular de bin Laden com 1,50 metro de altura, Nasir al-Wuhayshi. Ele e outros 22 escaparam de uma prisão de máxima segurança em Sana'a em 2006.

Acredita-se que o presidente Saleh do Iêmen tenha feito uma oferta aos guerrilheiros da Al Qaida em 2009, prometendo a libertação de prisioneiros e a passagem livre para a Somália ou Arábia Saudita. Dos 60 integrantes mais antigos, 20 teriam aceitado a oferta. Mas o pequeno líder da AQAP não estava entre eles.

A nova geração da Al Qaida declarou guerra total. Ela quer derrubar o governo em Sana'a, e não tem nenhum laço com os separatistas do sul ou com o regime do norte.

Anwar al-Awlaki é o propagandista chefe. Ele vive supostamente numa região tribal a leste de Sana'a, entre as províncias de Shabwa e Marib. Como o pai de Awlaki foi ministro da Agricultura e continua sendo um membro influente no parlamento, acredita-se que o governo tenha uma boa ideia de onde vive o clérigo.

O governo quer evitar uma operação norte-americana contra Awlaki a todo custo. Um único ataque aéreo contra seu clã poderia abrir uma nova frente no leste. Na semana passada um tribunal do Iêmen começou um julgamento contra Awlaki, sem que ele estivesse presente, por incitar o assassinato de estrangeiros.

Em junho, parecia que poderia haver um acordo. “Prendemos Awlaki e o condenamos a um curto período de prisão no Iêmen”, disse um informante na época. “Em troca, o clã receberia assistência.”

As perspectivas para este plano não existem mais hoje, agora que as bombas dificultaram em muito uma solução política. Awlaki é muito perigoso. Não há nenhum outro grupo na rede da jihad que seja mais adepta da fabricação de bombas do que a AQAP. Seus membros têm muito mais habilidade do que a geração anterior de terroristas. Qualquer um que acredite na possibilidade de um diálogo com a AQAP para atingir seus objetivos está assumindo um sério risco.

“Rua do orvalho da manhã”

Retrato do presidente Saleh estão pendurados em todas as paredes de Sana'a, a capital de conto de fadas com suas torres de lama construídas no estilo Tudor, como restos de um antigo concurso de construção de castelos de areia. Saleh subiu ao poder em 1978, primeiro como líder do Iêmen do Norte e depois da unificação como presidente do país todo. Nos retratos, o governante parece sério e normalmente olhando para o lado. Isso é para lhe dar um ar de visionário, mas cria a impressão de que ele está tentando evitar o olhar de quem o observa.

O presidente Saleh comanda o país através de uma rede intrincada de patronagem. Seus críticos dizem que ele usa as brigas entre as tribos em sua vantagem, compra seus inimigos, e está disposto a entrar em acordo com os islamistas se isso der mais apoio ao seu poder. Entretanto, desde que os rendimentos com as exportações de petróleo caíram drasticamente, ficou mais complicado lubrificar o sistema.

Muitos dizem que não existe alternativa ao presidente, uma visão compartilhada pelos Estados Unidos e países vizinhos. O Iêmen está muito geopoliticamente exposto para assumir riscos. A cooperação com Saleh é boa, disse o general James Mattis ao Senado dos EUA. “Precisamos criar laços estreitos com os iemenitas”, disse ele, observando que três principais ameaças – a crise econômica, a Al Qaida e os insurgentes locais – levaram o govenro do Iêmen e os militares a uma “situação crítica”.

O presidente Saleh, entretanto, precisa fazer política em várias direções. Ele precisa dos islamistas e dos líderes tribais, mas precisa mais ainda dos Estados Unidos. Num sinal de boa vontade, a “rua Irã” no quarteirão diplomático de Sana'a ganhou outro nome. Agora ela se chama “Rua do Orvalho da Manhã”.

Em seu ministério, Nabil al-Fakih está fazendo um esforço genuíno para corrigir a imagem de seu país. Ele é o ministro do Turismo do Iêmen. Segundo ele, “um minúsculo número de turistas foi sequestrado”, e um número menor ainda foi assassinado, diz ele. Isso é verdade, mas não é exatamente um bom slogan de marketing.

“Nosso país será um verdadeiro Eldorado para os turistas europeus”, disse o ministro enquanto colocava o material publicitário sobre a mesa, “assim que os problemas no norte e no sul acabarem”.

Ele evita mencionar o problema no leste, onde, em março de 2009, um jovem partidário da Al Qaida realizou um ataque suicida, matando quatro turistas coreanos, um guia, e a si mesmo. O grupo tinha saído para tirar fotos do por do sol na cidade de Shibam. Ele também evitou mencionar o oeste, onde lanchas de piratas passam pelos pontos de mergulho.

Não é fácil ser ministro do turismo no Iêmen.

Um país sem união

No norte, próximo à fronteira com a Arábia Saudita, milícias Houthi têm se rebelado contra o governo há anos. Seus membros sonham evidentemente com um governo islâmico.

Separatistas do sul pedem cada vez mais abertamente uma nova divisão do país. A área abriga muitos refugiados da guerra civil da Somália – 800 mil segundo algumas estimativas, e ninguém sabe exatamente quem eles são e o que deveria acontecer com eles.

Rashad al-Alimi, vice-premiê de Defesa, encontrou-se com um grupo de jornalistas em abril. Alimi é um homem pequeno com cabelo escasso e um ar de insatisfação com a má reputação do país. “A mídia retrata a Al Qaida de uma forma exagerada”, diz ele.

Alimi diz que o governo estabeleceu um programa de reeducação para milhares de ex-guerilheiros que foram para o Afeganistão nos anos 80. Portanto, diz ele, “a Al Qaida não representa nenhum perigo para os estrangeiros no Iêmen. Isso é nonsense da mídia, irresponsável e sem fundamento”. Então as luzes se apagaram na sala de imprensa do novo governo. Um blecaute típico. Ou essa descrição seria outro exagero da mídia?

A pobreza cai como pó nas ruas da bela Sana'a, onde crianças de pés descalços puxam garrafas plásticas por um fio em frente as paredes de lama protegidas pela Unesco. O orçamento nacional do Iêmen chegou a US$ 9 bilhões em 2009. Os alemães gastam quase a metade disso com seus cachorros todos os anos. Os ministros do governo foram obrigados a cortar seus gastos pela metade no ano passado.

“A Al Qaida está ditando as regras”
Um estudo revelou que o Iêmen será o primeiro país a esgotar suas reservas de água. Até 80% da água usada na agricultura vai para as plantações de khat. As reservas de óleo e gás do país estão diminuindo muito mais rápido do que o tempo para o Ministério do Turismo desenvolver seu Eldorado.

Uma grande parte da população de 23 milhões de pessoas do Iêmen vive espalhada pelo país em 150 mil vilarejos, isolados por montanhas e desertos. Algumas partes do país não têm estradas pavimentadas, fornecimento de água ou eletricidade. Os líderes tribais fazem as leis. Embora o presidente dependa do sistema tribal, seus governantes costumam ser vistos como incapazes e corruptos.

“Há muito trabalho diplomático que precisa ser feito, mas isso não está acontecendo”, diz Edmund Hull, ex-embaixador norte-americano em Sana'a. “Nós cedemos a iniciativa para a Al Qaida, e a Al Qaida está ditando as regras.”

Washington prometeu até US$ 250 milhões em ajuda para 2011. Mas outros dizem que o motivo pelo qual o Iêmen continua mais separado do que nunca, em seu 21º ano de unificação, é o próprio Saleh.

“O servo dos EUA”

Saleh celebrou seu 32º aniversário no poder, em 17 de julho, com um bolo do tamanho de uma mesa e um anúncio tão doce quanto: “Estamos preparados para formar um governo nacional que englobe todo o espectro político para realizar eleições no momento certo”, em abril de 2011. Desde então, entretanto, ele mudou de ideia.

Na última terça-feira, o exército lançou uma operação militar demonstrativa em larga escala contra a AQAP. O presidente sabe que não pode mais levar em conta os interesses dos grupos tribais. O caso das bombas foi muito significativo. Saleh precisa provar aos Estados Unidos, à Arábia Saudita e ao resto do mundo que pode governar por conta própria. Ele terá de prender os mandantes e arquitetos dos ataques fracassados, e terá de fazer isso rápido.

Os militares iemenitas realizam operações nas províncias de Abjan e Shabwa no sul desde agosto. “A partir de agora, só haverá sangue e cabeças cortadas entre nós”, disse Awlaki na época. “Se você estiver servindo ao déspota Saleh, o lacaio dos EUA, que está liderando uma cruzada contra o Islã”, disse ele, os soldados não serão poupados. Panfletos distribuídos nas ruas de Zinjibar em setembro listavam 55 oficiais ameaçados de morte.

Houve pelo menos duas batalhas diretas com a AQAP, nas cidades de Laudar e Houta, onde o exército cercou bairros suspeitos e evacuou a população. Então as áreas foram bombardeadas com artilharia e ataques aéreos. Os guerrilheiros da AQAP, entretanto, conseguiram escapar.

A inteligência dos EUA classificou as operações como uma fraude.

O regime de Sana'a também busca enfraquecer os separatistas do sul com sua campanha atual e estabelecer seus militares nas províncias. Todas as críticas à campanha têm sido interpretadas como críticas contra a guerra santa contra o terror.

A liderança do Harak facilita os esforços de propaganda para o governo. Na província de Shabwa, o secretário geral do grupo pediu para os guerrilheiros no final de setembro para cortarem as rotas de acesso para o exército. Toda a campanha não passou de “uma desculpa para subjugar o sul”, disse Salim al-Bid, ex-líder do sul, exilado em Omã.

Em Aden, o Toyota decorado com versos do Alcorão está na frente de um prédio mal cuidado. As palavras “Instituto para Estudos dos Direitos Humanos” estão pintadas acima do portão. “O presidente está sob grande pressão dos EUA, Europa e dos países do Golfo”, diz Takiya Abd al-Wahid, diretor do instituto. Ele convida várias pessoas para discutir o assunto numa garagem acarpetada. Dezesseis anciãos já estão acomodados na sala. Descalços e vestidos com robes parecidos com saias, eles mascam folhas de khat enquanto assistem tênis na televisão, sem som.

Política e o khat

Essas sessões de khat são comuns na democracia iemenita. Poucos imaginariam que esses homens, mascando khat, pertencem à antiga elite, mas na verdade eles são ex-ministros de gabinete, diretores de universidades, diplomatas e governadores da República Popular do Iêmen, que terminou em 1990. Alguns falam alemão e contam sobre seus dias em Dresden e Karl-Marx-Stadt (hoje Chemnitz, no leste da Alemanha).

O khat foi proibido pelos socialistas, exceto nas quintas e sextas-feiras. Hoje esses ex-altos oficiais têm suas bochechas cheias de folhas. “Isso estimula a mente”, dizem alguns usuários do khat.

O grupo discute política, o futuro e o passado. Presentes na sala estão esquerdistas nasseristas e baathistas, bem como pragmatistas que votariam para o partido islâmico, dizendo: “É o único partido forte o suficiente para obrigar o presidente a descentralizar o poder”. Talvez seja o efeito calmante das folhas de khat, mas quase ninguém na sala acredita que haverá uma nova guerra civil entre o norte e o sul.

O poeta Muajjad Barakat diz: “Não podemos conquistar muito por conta própria. Infelizmente, as diferenças entre nós, iemenitas do sul, também são um fato”. A estrutura mais viável, diz Barakat, seria um país com múltiplas regiões, “como a Bélgica ou a antiga Tchecoslováquia.”

Os homens vislumbram acordos e tentam retificar antigas diferenças ideológicas. Eles não têm nada além de desprezo pelo regime, que associam a uma incapacidade de romper com o passado.

Outros, enquanto isso, estão há muito tempo moldando o presente.

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