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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Simpatizantes de suspeito sérvio de crimes de guerra impedem a sua captura

Muçulmanas choram entre urnas fúnebres durante o enterro de 775 vítimas do massacre de Srebrenica recentemente identificadas
Ele passou 15 anos foragido, em certas ocasiões aparecendo ostensivamente em jogos de futebol e casamentos, e às vezes mergulhado na estrutura desta cidade de clima sigiloso. Agora, o mais procurado suspeito de crimes de guerra da Europa, Ratlo Mladic, está sendo escondido por apenas um punhado de simpatizantes leais, provavelmente em um bairro de edifícios altos da era comunista, segundo dizem os investigadores e alguns dos seus antigos aliados.

A situação precária em que se encontra o ex-general sérvio bósnio, que antigamente era protegido por vários aliados e autoridades do governo sérvio, faz com que a sua captura seja mais fácil, dizem algumas pessoas. Mas o fato de vários países europeus terem deixado de exigir a prisão dele para que a Sérvia possa ingressar na União Europeia está fazendo com que muita gente duvide que ele algum dia enfrentará a Justiça.

Esses fatos fazem com que este seja um momento importante não só para a busca por Mladic, mas também para as frequentemente difíceis deliberações da Europa a respeito de até que ponto seria recomendável encorajar essa caçada humana diante de prioridades altamente conflitantes. Em nome da unidade e da estabilidade europeia, será que a Europa deveria fazer exigências para a reabilitação de um país arrasado, que se tornou o Estado pária do continente quando a Iugoslávia se fragmentou durante as guerras balcânicas da década de noventa?

Ou, em nome da sua tradição de direitos humanos, a Europa deveria primeiro exigir que o governo sérvio, agora amigo, efetuasse a politicamente difícil prisão de um homem que é responsabilizado pelo maior assassinato em massa por motivos étnicos no continente desde a Segunda Guerra Mundial? Essas ações envolveram o massacre de 8.000 homens e garotos muçulmanos da cidade bósnia de Srebrenica.

Até agora, as esperanças da Sérvia de ingressar na União Europeia têm sido frustradas pela firme insistência em que primeiro Mladic seja entregue para ser submetido a julgamento no Tribunal de Haia. Mas o tempo está alterando essa situação. As imagens dos horrores da guerra perderam a força fora dos Bálcãs. Mladic envelheceu e, segundo diversas fontes, está doente e mais isolado, provavelmente mudando-se constantemente de um apartamento a outro no vasto subúrbio de Nova Belgrado.

O governo de dois anos do presidente Boris Tadic tem se mostrado extremamente pró-ocidental e prometeu que capturará Mladic. Mas, apesar disso, ele conseguiu evitar a prisão mesmo depois que um outro fugitivo, o ex-homem forte da Bósnia, Radovan Karadzic, foi capturado.

Existem fortes indícios de que quando os ministros das Relações Exteriores europeus se reunirem em Luxemburgo na segunda-feira, a exigência de uma prisão imediata de Mladic poderá ser suspensa, possibilitando que a Sérvia dê início a um processo de admissão que muita gente na Europa considera um passo crucial para a estabilidade nos Bálcãs.

“O futuro de vocês é a União Europeia, e esse futuro precisa se concretizar o mais rapidamente possível”, afirmou, neste mês, em Belgrado, o primeiro-ministro grego George Papandreou, em um comentário que faz eco a outras declarações feitas pela França, pela Alemanha e pela Bélgica.

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Rodham Clinton, também encorajou tal medida.

Mas algumas autoridades graduadas europeias e grupos de direitos humanos afirmam que um recuo em relação ao caso Mladic enfraqueceria a legislação internacional e significaria um fracasso moral.

“Essa prisão deveria ser uma prioridade número um”, afirmou em uma entrevista Serge Brammertz, promotor do Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia.

Ele foi um dos vários palestrantes e líderes mundiais presentes na 15º cerimônia em homenagem às vítimas do massacre de Srebrenica, no último verão do hemisfério norte, a pedir uma captura rápida de Mladic.

“Eu disse em Srebrenica, durante o memorial de verão, que aquele foi o momento mais emotivo para mim em três anos de trabalhos no tribunal”, lembrou Brammertz. “Eu pude constatar que, para todos os sobreviventes e parentes das vítimas, Srebrenica não é um acontecimento pertencente ao passado”.

Diplomatas holandeses dizem ser atualmente os únicos que exigem a prisão de Mladic para que a Sérvia possa ingressar na União Europeia. Eles esperam estimular uma ação nesse sentido por parte da Sérvia até dezembro, quando Brammertz publicará o seu relatório anual avaliando os esforços dos sérvios para capturar Mladic.

Mladic, um homem corpulento, de face avermelhada e olhos muito azuis, mostrou ser um adversário esperto – duro, cheio de artimanhas e protegido por simpatizantes que possuem treinamento militar, segundo mais de vinte fontes. Entre esses simpatizantes há investigadores do governo; dois assessores leais que ajudaram a ele e a Karadzic; e cinco amigos da sua família, incluindo um padre.

Em 1992, um mês após a maioria dos bósnios ter votado pela separação da Iugoslávia, as forças sérvias bósnias de Mladic deram início a um cerco de três anos e meio a Sarajevo, matando 10 mil pessoas, incluindo 3.500 crianças. Em 1995, os homens e garotos de Srebrenica foram levados a campos de execução nos quais foram fuzilados com as mãos amarradas.

Naquele ano um tribunal internacional em Haia indiciou Mladic por acusações de crimes de guerra praticados durante o cerco a Sarajevo e o genocídio ocorrido no massacre de Srebrenica. Mladic tornou-se um fugitivo quando 600 mil soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) chegaram aos Bálcãs, o que levou muita gente a questionar porque ele não foi preso. Diplomatas dos Estados Unidos e da Europa afirmaram que houve um consenso de que nenhum país desejaria derramar o sangue dos seus soldados em uma batalha contra os protetores armados de Mladic.

Durante anos, ele não se preocupou em se esconder. Protegido pelo presidente nacionalista da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, ele assistiu a uma partida de futebol entre a China e a Iugoslávia rodeado por guarda-costas em um estádio de Belgrado em 2000. Mladic rezou no funeral do seu irmão em 2001, usando um traje esportivo de moletom e óculos escuros, de braços dados com uma mulher jovem, segundo o padre da família, Vojislav Carkic.

Um dos seus protetores – um oficial militar sérvio que mais tarde foi preso – recorda-se de Mladic vivendo sem se preocupar em se esconder em uma casa guardada por 52 seguranças dotados de quatro carros.

A sua situação começou a mudar após um levante popular em outubro de 2000 que levou à deposição de Milosevic. Em 2001, um novo governo, ameaçado com a perda da ajuda financeira dos Estados Unidos e dos empréstimos do Banco Mundial, prendeu Milosevic devido a acusações de genocídio e o mandou para Haia.

Mladic, 68, passou a não frequentar mais lugares públicos e começou a se deslocar entre quartéis militares, segundo amigos dele, que disseram que o visitavam para jogar pingue pongue ou xadrez. Com isso, o mito da sua esperteza como fugitivo só aumentou.

Em 2002, o governo assinou um tratado de cooperação com o tribunal de crimes de guerra em Haia. O governo acabou solicitando que ele deixasse os quartéis nos quais se escondia em Belgrado. Segundo Vladimir Vukcevic, promotor de crimes de guerra da Sérvia, Mladic simplesmente recusou-se a cumprir a ordem do governo.

Mas autoridades militares acabaram obrigando-o a fugir, ao fazerem com que um helicóptero da polícia sobrevoasse os quartéis para dar a impressão de que uma operação para a detenção de Mladic era iminente. Mas isso não teve nenhum outro resultado além de provocar a fuga de Mladic.

Houve outras tentativas de capturar o fugitivo. Em março de 2003, o primeiro-ministro sérvio, Zoran Djindjic, prometeu que o prenderia a fim de abrir caminho para a admissão da Sérvia na União Europeia. Dias depois, Djindjic foi assassinado por um franco atirador.

Um dos seus protetores descreve como, quando Mladic foi obrigado a mergulhar na clandestinidade, membros da sua rede reuniam-se rotineiramente em locais cheios de gente, descartando telefones e cartões SIM a quatro quilômetros dos lugares em que se encontravam e discutindo questões de logística por meio de bilhetes manuscritos, que depois eram queimados.

Mais tarde, até mesmo quando os investigadores passaram a ter apoio político para procurarem Mladic, eles enfrentaram uma força insidiosa que frequentemente colocava a perder os seus esforços – uma elaborada “cultura de informantes” na qual oficiais militares e de inteligência avisavam regularmente aos aliados de Mladic sobre as operações para a sua captura.
Talvez devido a tais informações, Mladic pôde visitar a sua mãe que estava moribunda, em 2003, e fugir horas antes da chegada dos investigadores, diz Carkic, o padre da família.

A ação mais ousada do governo ocorreu em 2006. Em operações policiais em casas e esconderijos, o governo prendeu mais de uma dúzia de protetores de Mladic. Essas operações provocaram estragos na rede, mas acredita-se que elas também acabaram ajudando Mladic, ao fazerem com que ele percebesse que a pressão estava se intensificando.

Após as prisões, Mladic continuou foragido, mas viu-se reduzido a uma existência acética nos grandes edifícios cinzentos dos conjuntos residenciais do vasto bairro de Nova Belgrado, onde ele é capaz de desaparecer como se fosse um fantasma.

Um ex-membro da operação de vigilância do governo diz que os investigadores conheciam os esconderijos de Mladic e Karadzic até fevereiro de 2008. Mas a equipe de vigilância não recebeu orientações no sentido de tentar prendê-los. Segundo ele, essas equipes espreitavam os dois homens em frente aos seus apartamentos e seguiam os seus auxiliares quando estes iam fazer compras no supermercado.

Os investigadores afirmam que a rede de Mladic está atualmente reduzida a um ou dois assessores profundamente leais, com prováveis vínculos com o ex-exército iugoslavo – que o ajudam de uma forma mais ou menos similar àquela como Karadzic era ajudado. Um dos aliados de Karadzic contou que ele mudava-se constantemente entre 12 apartamentos em Nova Belgrado. Ele sobrevivia com cerca de US$ 280 (R$ 475) mensais, que eram usados para comprar mantimentos, incluindo salmão fresco.

As autoridades dizem agora que, independentemente de como a União Europeia lidar com a inscrição da Sérvia, elas tentarão prender Mladic.

“A Sérvia cumprirá as suas obrigações internacionais”, escreveu Tadic, o presidente da Sérvia, em resposta a perguntas que lhe foram enviadas por escrito.

Mas autoridades ocidentais dizem ter detectado um padrão antigo: sempre que a pressão aumenta, os sérvios fazem concessões limitadas. Quando a pressão é reduzida, os esforços deles desaparecem. Por exemplo, as autoridades policiais montaram operações para capturar Mladic em 2008. Mas, em entrevistas, investigadores e protetores sérvios de Mladic disseram que membros dos serviços estatais de inteligência sabiam que Mladic estava escondido em um outro local.

“Esse jogo está se desenrolando há cinco ou seis anos”, diz um diplomata ocidental, que não quis ser identificado nesta reportagem porque não está autorizado a falar publicamente sobre esse assuno. Ele afirmou que existem suspeitas de que Mladic esteja doente. “As autoridades sérvias estão esperando que ele morra – devido a um derrame ou problemas renais – , ou que a Sérvia consiga ingressar na União Europeia sem que faça nada em relação a esse problema”.

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